terça-feira, 24 de agosto de 2010

Mídia e Brasil no conflito Israel-Palestina

Extraído do Site: LABJOR (Unicamp)
20 de fevereiro de 2009.

A partir do final de dezembro do ano passado Israel intensificou os ataques aos palestinos da Faixa de Gaza, em resposta aos lançamentos de foguetes do Hamas à região. Diante da dimensão do conflito pesquisadores pensam em como a mídia deveria atuar nesse conflito e qual papel o Brasil pode exercer. A mídia é avaliada por eles como peça-chave na solução do conflito entre árabes e palestinos.
“O acesso à informação, seu tratamento, sua interpretação e sua democratização precisam ser mediados pela nação, para, respeitando todas as outras nações, construir um projeto de sociedade e território que seja o resultado das aflições de cada qual. De qualquer forma, as informações veiculadas pelo circuito hegemônico da mídia não são as únicas, há os veículos alternativos para isso”, avalia Márcio Antonio Cataia, geógrafo da área de geografia política e regional da Unicamp.
Nos últimos anos, têm sido observadas na mídia tentativas de posicionamentos de equilíbrio durante o conflito, o que demonstra preocupação não só em noticiar o conflito, mas em tentar entendê-lo em suas múltiplas dimensões. “Essa nova disposição mostra um esforço para fortalecer os meios de comunicação, como contraposição a ser refém da compra de informação das grandes agências internacionais de notícias”, destaca Cristina Soreanu Pecequilo, especialista de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Tais medidas são observadas pelo envio, por exemplo, de correspondentes ao conflito. Contudo, na análise da pesquisadora, seria importante que esta tendência se aprofundasse, abrindo ainda mais espaço para que as análises, explicações e reflexões fossem apresentadas com um olhar brasileiro. Para ela, a divulgação científica através das universidades, revistas especializadas e do advento da internet têm sido importantes para isso, pois, propiciam um maior espaço para discussões e reflexões.

Papel do Brasil

O perfil histórico e diplomático brasileiro, além da suas relações positivas com as nações do Oriente Médio, proporcionou um convite do governo Bush, em Annapolis 2007, para participar como observador das negociações que lá ocorreram. Para Cataia, os países latino-americanos, como o Brasil, apresentam experiências em lutas emancipatórias que podem ajudar na construção de uma coexistência pacífica entre ambas as partes. No entanto, a participação brasileira nesse contexto não pode entrar no mérito de construir modelos a serem aplicados em outras realidades socioterritoriais. Buscar “novas formas alternativas de uso político do território, tendo assim legitimidade para pressionar ambas as partes do conflito, ou seja, aquilo que podemos solicitar do outro é aquilo com o qual lidamos em nosso território”, analisa o geógrafo da Unicamp.

Obama na mídia árabe

Recentemente, o presidente eleito Barack Obama concedeu uma entrevista para a TV árabe Al Arabiya. Nela, afirma que os EUA cometeram diversos equívocos no Oriente Médio, e que, dado os atuais conflitos entre Israel e Palestina, torna-se propícia uma maior aproximação diplomática com o mundo árabe. "Os Estados Unidos estão comprometidos com a criação de dois Estados onde palestinos e israelenses poderão conviver juntos", garantiu o presidente estadunidense durante coletiva de imprensa.
Para Cristina Pecequilo, a mudança de Bush a Obama, que todos esperam, é que os EUA voltem a ter uma posição mais equilibrada entre Israel e os moderados palestinos do Fatah e que o processo de negociação possa ser retomado, o que, de imediato, enfraquece os radicais. Nessa perspectiva, seria necessária uma posição de mediação real e a opção por soluções políticas em detrimento das militares.
O diálogo político pressupõe a existência de certo equilíbrio de forças de coerção e coexistência em ambos os lados de envolvimento dos órgãos mundiais - ONU e organizações de direitos civis, por exemplo. Alguns acreditam que o processo de paz só poderá ser obtido com a superação das diferenças, muitas vezes políticas, das tensões que geram os conflitos.

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