EDUCAÇÃO
URGENTE! "A educação nos faz enxergar com outros olhos o que acontece à
nossa volta e nos ajuda a sair da resignação mortal para o desejo de que as
coisas melhorem"
Sobre
educação a gente deve ler Gustavo Ioschpe (a quem conheci menininho), e
refletir até o fim dos tempos. Envergonhar-se e chorar, ou ter uma derradeira
esperança. Eu, em geral otimista, até considerada ingênua, nesse assunto
contínuo cética. Basta ver o lugar que ocupamos nas melhores avaliações
internacionais, atrás de países nos quais eu nem cogitaria, tratando-se de
educação. Estamos abaixo da esmagadora (literalmente) maioria. Não seria
preciso a opinião de bons institutos internacionais ou nacionais, está debaixo
do nosso nariz, e cheira muito mal: nossa educação está abaixo de qualquer
crítica. E pode piorar, pois temos um ensino cada vez mais relaxado, uma
autoridade mais inexistente; agora se pensa em não reprovar mais ninguém nos
primeiros anos, isto é, vamos lhes mentir que estão aprendendo, como disse uma
autoridade em ensino.
Escolas
caindo aos pedaços, professores pessimamente pagos, e mal preparados (cadê
tempo para ler, estudar, progredir, se todos precisam de algum bico para
defender o pão de cada dia?). Sem bibliotecas (ou com elas abandonadas) nem
computadores - alguns foram doados, mas não há quem os instale ou os saiba
manejar. E o povo não sabe que o melhor modo de subir na escala social é pela
educação, que é informação, e formação, é força, é poder. Vai ajudar a tomar
decisões mais acertadas, fazer melhores escolhas, conseguir emprego ou subir de
cargo, ser mais gente, cuidar melhor de si e dos filhos, alimentar-se melhor,
viver melhor. Gostar mais de si mesmo, valorizar-se e ser valorizado. E assim
construir um país mais humano, mais digno, mais justo.
Não
vejo muitos governos, líderes de verdade querendo um povo educação, isto é,
informado. Pois quem se informa, quem sabe das coisas, questiona a situação da
sua comunidade, seu estado, seu país. Questiona sua própria condição. Não vai
mais querer morar em cima de velhos lixões mal disfarçados, ver seus filhos
comendo restos, brincando com água de esgoto, morrendo por falta de cuidados
essenciais.
Quem
se educa, isto é, pode ler e entender melhor as coisas, não vai mais aguentar
calado - distraído com alguns dinheirinhos a mais, estimulado até a comprar o
que não poderia, pois não vai conseguir pagar a próxima prestação - que seus
velhos não tenham assistência, que a aposentadoria, quando existe, seja de
fome, que as crianças morram em corredores de hospital, ou precisem ser levadas
horas a fio até o posto de saúde mais próximo - que pode estar fechado por
falta de médico ou até de remédios. Nós não somos assim. Não aceitamos morrer
de sujeira, doença, fome, falta de assistência, de informação, de dignidade.
Quem se informa e sabe das coisas não vai mais achar que a corrupção nos altos
escalões é assim mesmo, a política é assim, não tem jeito, "a casa já
caiu, temos de nos conformar", como disse um resignado homem numa
entrevista.
Um
povo educado é como um filho positivamente rebelde que não aceita injustiças,
gritos, brutalidade ou humilhações em casa. Um povo educado reclama. Um povo
educado elege diferente. Um povo informado - que teve escola, lê jornal,
conhece livros, assina sabendo o que está naquele papel, interpreta o que vê na
televisão ou escuta no rádio - ambiciona para seus filhos algo mais do que
viver na rua e morrer na esquina. A educação nos faz enxergar com outros olhos
o que acontece no país e no exterior - sim, pois a gente sabe o que se passa em
outros lugares - e sair da resignação mortal para o desejo ativo de que as
coisas melhorem. E começa a colaborar para que elas mudem. E vai reclamar de
quem mentiu, prometeu e não cumpriu, foi corrupto, ficou impune, pensou em mais
poder, e não na sua gente. Assim, devagar, usando de firmeza e inteligência,
sem violência, sem agressão, quem se educou vai começar a mudar seu país. E por
isso não me importo de repetir, repetir e repetir: a gente pode ser mais feliz.
A gente pode ser mais gente. A gente precisa, com urgência, de verdade, que a
educação seja prioridade de todos para todos, nesta nossa terra.
Lya Luft*
Publicado em: 22/12/2010
*Escritora
e colunista.
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