domingo, 25 de setembro de 2011

“UM MUSEU DE GRANDES NOVIDADES”

Senhoras e Senhores

É com imenso pesar que lhes anuncio: o espetáculo já começou. O picadeiro a cada dia ganha os contornos para a execução do ato e a nós, cidadãos de bem, honestos e trabalhadores, não nos é atribuído o título de respeitável público.

Os veículos de comunicação alardeiam os primeiros passos da conjuntura política municipal, seus protagonistas, suas variáveis, as diversas possibilidades. Os comentaristas especulam, analisam, arriscam alguns palpites, refletem sobre pesquisas e como que cumprindo um ritual sacrossanto a máquina pública que deveria gerir os interesses da população acaba por, mais uma vez, se desvirtuar das suas reais funções a fim de atender aos anseios dos protagonistas desse jogo de poder construído às custas dos contribuintes.

A nossa cidade atravessa um momento único da sua história, ao mesmo tempo em que se anunciam investimentos de grande porte e se delineia um leque de possibilidades econômicas para o porvir a nossa juventude é massacrada, como que num processo de limpeza étnica e social, na periferia da cidade, e o máximo que se observa é um noticiário, um reflexão espetacularizada. Quanto ao indivíduo, a vida que se foi, essa sim tornar-se-á mais um número nas estatísticas oficiais.

Enquanto as lideranças locais ocupam os espaços dos jornais sendo exortados por sua habilidade política e pela capacidade de aglutinação, o que percebemos é a legitimação da mais suja concepção que levou a política a se tornar sinônimo de desonestidade, e boa parte dos que a exercem, em mandatos, serem taxados como pessoas em quem não se pode confiar, veja-se expressões populares como: “promessa de político”, “palavra de político”...

Na medida em que os acordos vão sendo construídos e os grupos sendo formados os interesses tornam-se latentes e as disputas se iniciam, em seguida a distribuição dos possíveis cargos é selada antes mesmo de se chegar ao poder, nesse ínterim, ficamos colocados como elementos espectadores passivos a aguardar mais do mesmo.

A campanha se inicia e o que se vê é a contínua preocupação com a vitória, os discursos são quase que em sua totalidade idênticos, altera-se apenas o jogo de palavras. Os sorrisos afetuosos dos cartazes, os abraços festivos a cada encontro e os cafés nas mesas humildes de cada lar são substituídos, no fim da corrida eleitoral, pelo desprezo, pelo disfarce (bonezinho e óculos escuros), pelas portas fechadas, pelas promessas não cumpridas e pelo uso inapropriado da coisa pública.

            No entanto, é preciso que nos vistamos da nossa culpa afinal este espetáculo vem sendo assistido desde sempre e os espectadores, por mais que paguem por seu ingresso, não se levantam a vaiar, ao contrário parte da platéia exulta em coro “bravo, bravíssimo”.



Rafael Gama Moreira

Educador e Blogueiro

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