Inegavelmente vivemos em tempos ensurdecedores, mesmo quando não há barulho. O que parece intrigante nesta afirmação e que ressoa como controverso, assim o é pelo fato de que mesmo quando nos momentos de repouso – onde, portanto, o silêncio deveria reinar – o turbilhão de preocupações de ordem material adquire feições cada vez mais volumosas.
A mesma tecnologia que nos trouxe conforto, aliada à reestruturação das relações de trabalho e produção, reforça noções como a falta de tempo, com isso, a necessidade de “mais horas no dia”, bem como nos envolve de tal maneira que o ver, o sentir, o pensar, e o estar com, passam a ser mediados pelo sem fim de recursos virtuais que robotizam as relações e constroem em nossa órbita barulhos cada vez mais atordoantes, não nos permitindo atingir o silêncio reflexivo.
Esses barulhos são da ordem, sobretudo, das expectativas que são criadas em torno dos nossos desempenhos, predominantemente, escolar/acadêmico, profissional/financeiro, marital/sexual, entre outros.
Quando no imaginário do indivíduo se estabelecem infindáveis metas que devem ser atingidas, não para qualificar seus relacionamentos e vivências, mas, para quantificar e oferecer, em somas cada vez mais vultosas, elementos desprovidos de amor, torna-se evidente o diagnóstico de uma sociedade enferma.
A vida contemporânea, repleta de desejos momentâneos e incessantes, nos faz buscar fora, em objetos de consumo e em outras pessoas, tudo aquilo que interiormente não conseguimos encontrar. Palavras como consumir, possuir e acumular substituem outras como conviver, ser e partilhar deste modo, com o individualismo cada vez mais reforçado, nos tornamos presas fáceis para toda a sorte de perturbações que se avolumam e desdobram em desequilíbrios de ordem física e moral. O que não devemos esquecer é que o nosso comportamento “convidativo” age como que abrindo as portas para estas influências.
Chegamos até a nos dar conta de que vivemos em constante estado de busca, porém o que nos falta é procurar no lugar certo, ou como no dizer do filósofo Frei Betto “virar o desejo para dentro” remodelando as necessidades que criamos para uma atitude proativa no meio em que vivemos. Arrisco-me a dizer que outro passo nesta direção deve ser a busca pelo silêncio. Não o silêncio meramente do calar-se, mas o contemplativo, o que nos leva à auto-reflexão, aos momentos de expurgo das vaidades que nos fazem curvar frente os modismo atuais.
Esta não é missão das mais fáceis seja pelos incontáveis estímulos visuais e sonoros que a todo instante estamos a receber ou ainda pela sensação de inserção num grupo quando na realidade estamos imersos na mais profunda solidão. Pensar sobre silêncio onde o que conta é quem fala mais alto é um nobre sacrifício para aqueles que vão além.
Se vivemos a procura de paz e compreendemos que esta não reside na ausência de conflitos, por serem estes inerentes à condição humana, fiquemos com Schopenhauer que alertava: “da árvore do silêncio pende seu fruto, a paz”.
Profº Rafael Gama Moreira
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